CAIO E O DRAGÃO DOURADO (Parte 1)
Existem muitas
histórias sobre dragões e matadores de dragões. Na maioria das vezes, os
dragões são criaturas pouco ou nada amistosas, enquanto que os seus
adversários, ao vencê-los, recebem a fama de heróis.
Mas agora eu
pergunto: E se o herói se recusasse a matar o dragão por não achá-lo
verdadeiramente hostil?... Você ainda o chamaria de herói, ou diria que ele é
covarde e só está mesmo procurando uma desculpa para não enfrentar o dragão?
Antes que você rotule
a recusa do herói em matar o dragão de nobreza de caráter ou covardia, deixe-me
contar-lhe uma história que ouvi quando ainda era criança.
Certa vez, um músico
apaixonou-se por uma princesa. Embora o seu amor fosse correspondido, ele só
poderia desposá-la quando trouxesse para o rei a cabeça do temido dragão
dourado.
Entretanto, para o
nosso músico apaixonado, matar, fosse lá o que fosse, representava o mais
desprezível ato que um ser humano poderia cometer.
Seria o seu amor
forte o bastante para ajudá-lo a empunhar a espada e sujá-la com o sangue do
dragão? Ele procurava desculpar-se com a princesa, dizendo:
– Cândida, sinto
muito, mas não posso matá-lo. Temos que encontrar um meio de fazer com que o
seu pai compreenda isso.
A princesa retrucava
impaciente:
– Já estou cansada
desse seu sentimentalismo, Caio.
Depois, para
provocá-lo, acrescentou:
– Ou será que é a sua
covardia que o impede de satisfazer a vontade de meu pai?...
Chocado com a
insinuação de sua amada, Caio respondeu:
– Não sou eu o
covarde. Covardia é o seu pai querer a cabeça daquela criatura inofensiva.
Furiosa, a princesa
exclamou:
– Inofensiva?! Como
ousa dizer que aquele animal repugnante é inofensivo?!
– Talvez, o dragão
seja repugnante; contudo, não se tem notícia de que ele tenha atacado alguém
antes de ter sido provocado. Além disso, nunca feriu ninguém gravemente.
– E vamos esperar que
isso aconteça, para depois matá-lo?!... Por causa desse monstro, ninguém mais
passeia pela floresta. As pessoas vivem ansiosas, com receio de que ele apareça
quando menos se espera. Você terá que matá-lo, ou do contrário...
Caio ficou olhando
para a princesa Cândida, esperando que ela continuasse. Sem hesitação, ela
acrescentou:
– Não haverá
casamento, porque eu direi a meu pai que não desejo me casar com um covarde.
Continua...
Sisi Marques
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