Augusto
caminhava de um lado para o outro, em seu quarto, pensando o que seria de seu
reino se um dia ele faltasse. Toda sexta-feira, ele costumava sair do castelo
vestido de camponês, para juntar-se aos seus súditos e descobrir o que pensavam
sobre ele e como esperavam que ele agisse. Ele já estava pronto para sair
furtivamente do castelo, mas, em vez disso, continuava andando em círculos...
De repente, ele teve uma ideia e parou de caminhar. Destrancou um enorme baú e retirou
dele um pequeno saco de veludo repleto de moedas de ouro.
Naquela
sexta-feira, em vez de caminhar pelas ruas como costumava fazer para passar
despercebido e poder conversar e beber com os homens simples de seu povo, ele
montou em um cavalo desprovido de ornamentos e cavalgou durante horas por
lugares onde a miséria imperava. Quando ele viu um mendigo sujo e maltrapilho
encostado em uma porta que nunca se abria porque as paredes ao seu redor já
haviam desmoronado, ele parou, desceu do cavalo e sentou-se ao lado daquele
homem que, em outra circunstância, teria lhe causado extrema repugnância.
O
mendigo, sem suspeitar que Augusto fosse um rei, perguntou a ele se também
estava desempregado. Augusto permaneceu calado, e ele começou a contar sua
história. Disse que cozinhava muito bem, mas fora expulso do castelo
simplesmente porque o chefe da cozinha real descobriu que ele costumava esconder
sobras de comida para levá-las para sua família. Depois disso, ele não
conseguiu mais encontrar emprego, e sua esposa o abandonou levando consigo as
cinco crianças que eram a razão de sua existência.
Augusto
aproveitou o momento em que o mendigo fez uma pausa para dizer: “Ouça, a partir
deste momento, sua vida poderá mudar. A rua está deserta... Eu vestirei suas roupas,
e você vestirá as minhas. Você subirá naquele cavalo e reconstruirá sua vida
com o auxílio deste saco de moedas que estou depositando em suas mãos. Eu só
lhe peço que nunca fale sobre esse nosso encontro a ninguém.”
Desconfiado, o mendigo perguntou:
“É simples assim?!... Não me pedirá nada em troca?!... Quem é você?!...”
Augusto disse: “O meu nome, eu não posso lhe revelar. Só necessito que me diga o
nome do homem que você considera mais honesto neste reino.” O mendigo
respondeu: “Josivaldo. Ele sempre vem aqui, pouco antes do anoitecer, para me trazer
algo para comer. Eu só não morri graças a ele.”
Depois que o ex-mendigo montou no
cavalo e partiu, Augusto continuou ali sentado, sendo alvo das reações que sua
presença causava nos transeuntes. Uma criança ameaçou aproximar-se dele, para
entregar-lhe um pedaço do doce que estava comendo, mas a mãe ralhou com ela e
puxou-a pelo braço. O tempo parecia ter parado... Os minutos pareciam horas...
E, em meio a tantos pensamentos, havia uma pergunta que o incomodava: “Por que
escolher um desconhecido para ocupar o trono, em vez de me casar e entregar a
coroa ao meu filho?!...” Essa pergunta já o atormentara antes, mas o que ele
poderia fazer se não conseguia se apaixonar?!...
Augusto estava tão imerso em seus
pensamentos que se assustou quando ouviu alguém perguntar: “Você viu para onde
foi o mendigo que costuma sentar-se aqui?!... Eu estou com um pouco de pressa
porque minha irmã me espera para o jantar. Você poderia entregar este pão e
estas frutas a ele?!... Coma uma fruta, se desejar.” O homem surpreendeu-se
quando ouviu Augusto perguntar: “O seu nome é Josivaldo?!... Conte-me tudo
sobre você.” Augusto sorriu quando o ouviu dizer: “O mendigo nunca me disse o
nome dele, mas, agora, percebo que ele prestou atenção quando eu disse o meu.
Se você é amigo dele, considere-se meu amigo também. Você parece mais aberto ao
diálogo do que ele. Lamento não ter conseguido fazer nada por ele. Mas deixe-me
reparar isso, fazendo algo por você. Venha até a minha casa. Você poderá se
banhar, colocar roupas limpas e comer uma saborosa refeição.”
Augusto, como era de se esperar,
aceitou o convite. Enquanto caminhavam, Josivaldo contou sua história. Ele era
alfaiate, e morava sozinho em uma casa simples. Ele estava ansioso para voltar para casa
porque era sexta-feira. Apenas às sextas-feiras, a irmã dele tinha autorização
de deixar o palácio para visitá-lo. Nos outros dias da semana, ela costurava
para as damas da corte. Sem suspeitar que estivesse falando com o rei, Josivaldo
terminou o relato sobre sua irmã dizendo: “Adélia vive fora desta realidade.
Embora ela pareça lúcida, é muito sonhadora!... Ela já me disse que não
pretende se casar porque o seu coração pertence ao rei. Ela o ama imensamente,
e ele nunca olhou para ela!... Duvido mesmo que ele saiba que ela existe. Como
pode o amor ser tão desumano?!...”
Quando Augusto e Josivaldo
entraram e cumprimentaram Adélia, ela se deteve contemplando o rosto de Augusto
e disse delicadamente: “Nós acabamos de nos conhecer, e eu tenho a impressão de
que o conheço há muito tempo. Você se parece muito com alguém que... Meu Deus,
o que estou dizendo?!... Você deve estar faminto. O meu irmão lhe mostrará onde
fica o banheiro para que você possa se livrar dessas roupas e tomar um banho.
Enquanto vocês se aprontam para o jantar, eu colherei algumas flores para
enfeitar a mesa.”
Acreditem: foi amor à primeira
vista. O rei Augusto nunca havia reparado em Adélia porque, certamente, jamais
tivera a oportunidade de olhar para ela. Eram tantas as jovens que o cercavam,
e ele passava o tempo todo inventando desculpas para esquivar-se!... Mas,
naquele momento mágico, Augusto viu, no rosto de Adélia, a face do verdadeiro
amor. Durante o jantar, ele revelou sua identidade e explicou o motivo que o
levara a agir de modo tão estranho. Em
seguida, ele pediu a mão de Adélia em casamento. E os três brindaram à
felicidade do jovem casal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário