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sábado, 1 de novembro de 2014

O BONDOSO REI E O FILHO DA RAINHA



Era uma vez um rei justo e bondoso. Embora ele tivesse poderes mágicos, ninguém o temia porque ele usava sua magia apenas em benefício de seu reino. Os seus súditos o amavam e ficaram imensamente felizes quando ele anunciou o seu casamento com uma mulher que parecia nutrir por ele sincera afeição.

Oito meses após a promissora união, uma criança nasceu. Os anos se passavam, o príncipe crescia, e os desentendimentos entre o rei e a rainha se tornavam mais frequentes a cada dia, porque o rei não aprovava o excesso de mimos que a rainha dispensava a ele.

Certo dia, o rei disse à rainha:

– Nossos súditos têm todo o direito de expressar o desagrado e o receio que a conduta de nosso filho lhes causa. Não podemos puni-los por reagirem quando ele os sobrecarrega com suas exigências descabidas.

A rainha respondeu com altivez:

– Esta nossa discussão e todas as outras seriam desnecessárias se você se dispusesse a fazer o que sugeri desde o início: Convença o seu povo a respeitá-lo e a cumprir suas ordens sem questioná-las.

Movendo a cabeça para os lados, o rei exclamou:

– Eu discordo, porque isso está errado!... Podemos convencer os nossos súditos a tolerarem o nosso filho, mas o respeito deles é algo que ele terá que conquistar sozinho!...

A rainha rebateu com frieza:

– Isso é o que você pensa. Mas saiba, meu caro, que eu não penso como você!... Poder é sinônimo de admiração e respeito. Felizmente, de você, ele só herdou a magia.

Mais uma vez a discussão se encerrava aumentando a distância que havia se estabelecido entre o casal. O rei se entristecia porque a insatisfação parecia estampada no rosto de seus súditos. O seu filho, na mais leve contrariedade, erguia os braços e evocava os seus poderes mágicos. O céu escurecia, e os estrondos de raios e trovões eram ouvidos em todo o reino. As pessoas, com a respiração suspensa, tremiam de pavor enquanto a chuva fria e cortante molhava suas vestes.

Houve um dia em que o bondoso rei disse à rainha:

– A submissão do meu povo aos desmandos do nosso filho ultrapassou o limite do tolerável!... Hoje mesmo ele será levado para o...

Sem permitir que o rei completasse a frase, a rainha afirmou:

– Será você quem ficará recluso naquele labirinto no interior da floresta, e não o meu filho. O meu filho, sim, o meu filho, porque ele é só meu!... Eu já estava grávida quando nos casamos. A magia que ele herdou do mago cujo nome não pode ser revelado é muito mais poderosa do que a sua. Você se curvará diante da minha vontade e diante do poder do meu filho.

Naquele mesmo dia, o príncipe se coroou rei e ordenou que o antigo rei fosse aprisionado no labirinto. O descontentamento, a pobreza e a miséria substituíram a paz e a prosperidade que o antigo rei construíra. As pessoas começaram a fugir para os reinos vizinhos, e a fama do príncipe cruel, que havia se coroado rei, espalhou-se rapidamente.

 Meses depois, sem que a rainha pudesse adivinhar o motivo, os poderes de seu filho se extinguiram, e o povo começou a desobedecê-lo. Dentro do castelo, a situação não era diferente. Os sábios ordenaram ao chefe da guarda real que providenciasse a partida da rainha e de seu filho para um reino distante. Quando a rainha e o falso rei partiram, o chefe da guarda recebeu uma nova ordem que o alegrou profundamente: ele deveria chefiar uma escolta cuja missão seria libertar o verdadeiro rei e conduzi-lo de volta ao seu trono.


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