domingo, 29 de março de 2015
domingo, 15 de fevereiro de 2015
O CARNAVAL DO REENCONTRO
Lina era uma fada que
acreditava no amor e havia entregado o seu coração a Marcel, um jovem elfo. Mas
o senhor dos destinos os separou, porque eles se devotaram única e
exclusivamente ao amor que sentiam e se esqueceram de suas responsabilidades em
relação aos lugares paradisíacos que juraram proteger.
Obedecendo ao comando
do senhor dos destinos, os ventos sopraram e provocaram uma tormenta. Lina e
Marcel foram surpreendidos pela tempestade e não tiveram tempo de buscar
refúgio. Eles se abraçaram para evitarem a separação, mas a força dos ventos
era terrível e os elevou ao céu. O afetuoso abraço foi rompido, quando cada um
deles se viu preso em um redemoinho, e foram conduzidos para direções opostas.
Enquanto eles se afastavam, com os braços estendidos e a visão embaçada pelas
lágrimas, eles ouviram o som de uma voz que estrondava no ar: “Lina e Marcel, a
sua insensatez os afastou de seus destinos e os conduzirá a caminhos tortuosos.
É verdade: o que vocês chamam de amor, eu rotulo de insensatez. Eu não posso
forçá-los a recobrarem a razão, mas posso evitar que se reencontrem. Contudo,
se a teimosia de vocês for maior do que a prudência, apenas no mundo dos
humanos vocês poderão se unir novamente.”
Anos e anos se
passaram, e a saudade dilacerava aqueles dois corações apaixonados. Era sempre
a mesma pergunta que os assombrava: “Como poderemos nos reencontrar no mundo
dos humanos, se eles se assustariam com a nossa presença?!” Certo dia, porém,
Lina teve a oportunidade de se aproximar de um local onde as pessoas se vestiam
com roupas extravagantes e coloridas. Era carnaval. Os rostos se escondiam
atrás de máscaras, e a alegria parecia substituir a estranheza. Lina pensou:
“Estão todos se divertindo tanto que nem terão tempo de notar a minha
presença.”
Lina encorajou-se a
entrar no salão onde as pessoas fantasiadas cantavam e dançavam alegremente. O
coração de Lina disparou quando os seus olhos esbarraram em um elfo solitário
que também tivera a ideia de se reunir àquela multidão. Lina sorriu e foi ao
encontro de Marcel.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
O CARNAVAL DO LIXO
O proprietário do circo, que ficava instalado no
centro de um grande terreno localizado ao lado da praça, orgulhava-se dos
glamorosos desfiles que ele organizava para o carnaval.
Apenas os animais permaneciam no circo nessa
data. O dono do circo, elegantemente vestido, caminhava na frente, acompanhado
dos artistas, dos funcionários e da banda, nada afinada, mas impecavelmente
uniformizada.
Os foliões se aglomeravam para assistir àquele
espetáculo que lhes era oferecido gratuitamente, em agradecimento à acolhida e
à audiência que o circo sempre recebera.
O desfile do circo já havia se tornado uma
tradição, e ninguém conseguiria imaginar o carnaval sem a beleza, a alegria e a
descontração que aquele grupo proporcionava. Mas houve um ano em que os
habitantes daquela cidade ficaram profundamente descontentes com a “brincadeira
de mau gosto” que presenciaram. O dono do circo havia se fantasiado de palhaço
e trazia um tubo de papelão ao redor de seu corpo, simbolizando uma lata de
lixo. Os artistas e funcionários também caminhavam como se estivessem dentro de
uma lata de lixo, usando fantasias que causaram nojo até mesmo nas crianças. Os
homens se vestiram de rato, e as mulheres de barata. A banda também não
parecia a mesma de outros carnavais: o maestro e os músicos dispensaram os
uniformes e vestiram-se com roupas velhas, sujas e rasgadas. As alegres
marchinhas de carnaval também foram substituídas por marchas fúnebres.
A indignação apoderou-se de várias pessoas,
gerando vaias e gritos de protesto. Na metade do trajeto, o dono do circo
interrompeu o desfile e fez um sinal para que todos ouvissem o que ele tinha a
dizer: “Cidadãos de Ruas Limpas, aposto que vocês sentem orgulho do nome de sua
cidade!... As ruas desta cidade, realmente, causariam inveja às cidades
vizinhas!... Infelizmente, eu e os funcionários do meu circo não podemos nos
orgulhar do espaço ao redor do nosso local de trabalho, porque é lá que vocês
depositam o seu lixo, e nós, atualmente, estamos sendo forçados a conviver com
ratos e baratas!... Se o espetáculo que presenciaram hoje ofendeu sua visão,
conscientizem-se da necessidade de não jogarem o seu lixo na propriedade dos
outros para que, no próximo ano, possamos lhes oferecer uma apresentação mais
agradável.”
Quando o dono do circo encerrou o seu discurso,
ele e sua equipe não se dirigiram à praça para se divertirem com os foliões. Em
vez disso, eles retornaram ao circo. No carnaval do ano seguinte e em todos os
carnavais depois daquele, os desfiles planejados para os habitantes de Ruas
Limpas voltaram a ser glamorosos e inesquecíveis.
O ESTRANHO SONHO DO GAROTO QUE MALTRATAVA OS ANIMAIS
Era uma vez um garoto
muito mau. Ele era briguento, não respeitava ninguém e maltratava os animais. Sua
diversão favorita era amarrar latas no rabo de gatos e cachorros. Ele dizia que
adorava o estardalhaço que eles faziam.
Certo dia, ele teve um
sonho estranho. Ele sonhou que havia morrido e fora parar no céu dos animais.
Quando um cachorro enorme vestido de anjo foi ao seu encontro, ele perguntou:
“O que estou fazendo aqui?!... Embora eu adore me divertir, eu prefiro ir para
o lugar onde ficam as pessoas.”
O cachorro vestido de
anjo respondeu: “Você está tendo a oportunidade de se desculpar com os animais
que prejudicou.” O garoto soltou uma gargalhada antes de dizer: “Você deve
estar brincando!... Se eu tivesse prejudicado alguém, eu até poderia pedir
desculpas, se quisesse!... Mas eles não são gente, são animais. São apenas
cachorros e gatos!... Você é apenas um cachorro, e eu não perderei o meu tempo
com você. Por que você não tira essa fantasia e vem brincar comigo?!... Onde
está o seu dono, cãozinho?!...”
O cachorro vestido de
anjo não se sentiu ofendido com as provocações. Sem alterar o tom de voz, ele
disse: “Ria, você pode rir à vontade, garoto!... Você não morreu. Saiba que
isto é apenas um sonho. Mas, antes de acordar, você sentirá na pele todo o
sofrimento que causou aos animais.”
O garoto teve que se
calar, porque a nuvem que havia sob seus pés abriu-se, e ele começou a cair.
Durante a queda, ele ficou alarmado ao perceber que o seu corpo, lentamente, assumia
a forma do corpo de um cachorro. Ele gritou. Gritou por socorro. Gritou por
clemência. Pediu perdão a todos os animais que havia prejudicado. E continuou
gritando, desesperado.
O garoto só parou de
gritar quando ouviu a voz de sua mãe, pedindo-lhe que se acalmasse. Ele ficou
pensando, pensando... Ele se perguntava se aquele sonho havia sido um pesadelo
ou uma advertência. Se tivesse sido apenas um pesadelo, certamente, não teria
sido tão vívido, tão real!... Ele começou a acreditar que aquele sonho tinha
sido um aviso para que ele refletisse sobre sua conduta inadequada.
Quem me contou essa
história estava com pressa, porque precisava pegar o ônibus e não teve tempo de
dizer se o garoto passou a tratar os animais com gentileza. Eu espero que o
garoto tenha seguido a intuição e tenha aprendido a respeitar não só os animais
mas também as pessoas.
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